22/08/2023

A “multa” do Banestado

Por Carlos Fernando Huf – Um out-door do governo do Estado espalhado pela cidade deveria servir de base e de alerta para o eleitor direcionar seu voto em outubro próximo. A peça publicitária nos informa que, finalmente, a “multa pela venda do Banestado” foi cancelada.
Depois de sete anos negado sistematicamente, assim que o governador Requião deixou o governo do Estado, o cancelamento se concretizou, como por encanto. De repente, não mais que de repente, o relator do processo, o netinho, o clone político do Toninho Malvadeza, mudou de idéia e concordou com a medida que negara até então.
Como o eleitor brasileiro não tem memória política, vamos relembrar. O Banestado foi “vendido” ao Itaú – na realidade, doado – pelo ocupante que deixou o Palácio Iguaçu em 2002. O mais espantoso é que, por detalhes cuja explicação ocuparia muito espaço, ainda restou uma absurda “multa” ao Estado. Resumindo, depois da doação, o Paraná continuou pagando para o Itaú fazer o sacrifício de ficar com o banco dos paranaenses. Para alguns, apenas mais um dos muitos negócios da China que caracterizaram aquele período negro da história do Paraná.
O novo governador se recusou a pagar a “multa”, e entrou com as medidas legais para cancelá-la, junto ao Executivo e ao Legislativo federais.
Aí é que vem o espanto maior. Durante mais de sete anos, os deputados federais e senadores do Paraná fizeram jogo de cena, fingindo que brigavam pelo interesse do Estado. O governo federal alegando que a questão dependia de decisão legislativa, e no legislativo o neto do ACM fazendo o jogo dos inimigos do Paraná, que nós elegemos para defender o Paraná.
Ou seja, por questões políticas e pessoais com o governador Requião, os nossos representantes em Brasília simplesmente permitiram que mais de 220 milhões de reais fossem surrupiados, todos os meses, do povo paranaense durante sete anos. Quantas obras, quanta melhoria na educação, saúde e segurança o governo do Paraná foi impedido de realizar durante esse tempo todo, simplesmente para seus adversários enfraquecerem politicamente o então governador?
Esse é o “interesse público” que nossos representantes defenderam em Brasília o tempo todo. Se houve alguma exceção, ninguém soube, ninguém viu.
Mas agora, sim, todos vêm mostrar a cara, e posar de pais da criança. Todos eles estarão aqui novamente, em breve, pedindo nosso voto para se reeleger. E desgraçadamente, a maioria vai conseguir.
Aqui, um parêntesis necessário. Já que, tão logo Requião saiu, o executivo e o legislativo federais resolveram fazer justiça, que tal o Judiciário acompanhá-los, e começar a desengavetar os processos do Estado contra o abuso do pedágio? Ou existe algo mais além da antipatia pessoal contra o ex-governador que o impeça? Ou no Paraná as premissas do Direito Administrativo, especialmente aquelas das exceções do pacta sunt servanda em favor do interesse público, continuam não valendo? Ou se trata de algo mais, além da antipatia pessoal contra o ex-governador?
Há dias, vi um eleitor se achando muito inteligente ao dizer que vai esperar os debates entre candidatos, a apresentação de propostas, etc., para decidir seu voto. Ainda não vi ninguém dizer que vai votar com base não naquelas promessas e propostas que nunca são cumpridas, mas no passado do candidato. Porque o único indicativo confiável do caráter de qualquer pessoa, e não apenas de políticos, é o exemplo do que ela fez até aqui. O que ela fez e faz, é o que fará. Nem mais nem menos.
Por último, senhor eleitor paranaense: tudo indica que as negaças de um forte candidato à sucessão de Requião é apenas mais um jogo de cena antes da entrega da candidatura praticamente a um único nome, aquele que virá montado por uma antiga quadrilha, velha conhecida dos paranaenses. Afinal, depois de oito anos de Requião, o Paraná está plenamente recuperado, e pronto para ser loteado novamente – inclusive os milhões da “multa” que só agora foi cancelada.
Vote neles, e depois não se queixe se a primeira medida for pedagiar as estradas que o ex-governador recuperou com o nosso dinheiro. Vote neles, e você merecerá pagar mais essa conta.
o-o-o-o-o

BEM BRASIL – Segundo a recente decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a auto-anistia que a ditadura se outorgou em 1979, tortura é crime imprescritível apenas quando praticado entre indivíduos. Quando praticado pelo Estado, não.
Assim, enquanto o Executivo brasileiro se agiganta perante o mundo, o Judiciário faz questão de se apequenar, diante até de Argentina, Chile e Uruguai, que há muito vêm punindo os seus criminosos fardados.
Também, de um poder em que seus membros acusam colegas de comandar “jagunços” no seu estado de origem, esperar o quê?

Cristina Esteche

Jornalista

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